segunda-feira, 15 de junho de 2015

Meu namorado é um Ironman

Este é o lindo post que a Mandi escreveu no blog dela sobre a prova de Florianópolis.... Mostra o lado de quem apoia, é companheira e "suporta" a intensa vida de treinamentos para se preparar para um Ironman.

As vezes acho que o "outro lado" é até mais difícil do lado de quem tem "apenas" que competir, porque vejo o quanto a Mandi sofreu, acordou cedo, ficou em pé, comeu mau e passou maus bocados neste ano inteiro....

Estou ficando mole e chorão... Fiquei emocionado ao ler 

Obrigado Gatinha... Te amo...




“Meu namorado é um Ironman!”

Tenho pensado nessa frase desde às 17h36m15s do dia 31 de Maio de 2015.

Às vezes eu tenho a impressão de que algumas pessoas podem se perguntar: “Tá e ai? O que mudou na sua vida?” e a melhor resposta seria: nada, e ao mesmo tempo, tudo. Por isso, resolvi tentar explicar aqui em algumas linhas, talvez, o inexplicável.

A história do meu namoro se funde com o projeto do “meu” Ironman. Conheci o Dani em Julho de 2014, há cerca de 11 meses, no início do seu ano sabático, no início do sonho de se tornar um “Finisher”. Pensei: “Caramba... Que coragem desse moço. Acabou de largar o emprego, acabou de terminar um namoro e está prestes a arrumar uma nova encrenca, ops, nova namorada”. Nunca falei isso para ele, mas talvez se eu estivesse no seu lugar, não teria embarcado numa nova aventura sentimental a aquela altura do campeonato. Hoje, por motivos óbvios, fico muito feliz dele não ter pensado nessa forma. Certa vez, ele me perguntou o porque eu não fugi quando ele disse que não trabalhava, que era um “vagabundo” como ele delicadamente se intitula. Se eu não tinha medo dele ser um encostado que abusaria do meu humilde dinheirinho, já que ficaria um ano sem receber salário. Quando soube que ele tinha decidido se dedicar um ano para ir em busca de um sonho, um objetivo pensei exatamente o oposto. Pensei que ele era muito corajoso e imaginei ser uma pessoa extremamente planejada, determinada, organizada e dedicada, características essas que pude comprovar e somar a tantas outras lindas que conheci ao logo do tempo e que fizeram com que eu rapidamente me apaixonasse por ele.


Eu sempre entendi a magnitude das distâncias de um Ironman. Por praticar esportes há algum tempo e estar em contato com o mundo do triathlon há quase 2 anos (mesmo que só espiando, ainda...) eu já sabia que nadar 3,8km, pedalar 180km e depois correr 42,2km (sim, uma maratona depois disso tudo) não era uma tarefa nada fácil. E aqui vale desatacar que é um na sequência do outro. Sim, no mesmo dia, como alguns me perguntam... Mais precisamente, no limite de 17h para cruzar a linha de chegada.  O que eu não podia imaginar é o que eu descobriria por trás da teoria.

Eu descobri que uma prova de Ironman começa meses antes da largada. Começa com a preparação do corpo e da mente do atleta para que ele consiga chegar até o grande dia da prova. E eu posso dizer isso com toda a certeza do mundo: esse caminho não é nada fácil para o atleta e muito menos para quem o acompanha de perto e convive com ele.

Os treinos aconteceram praticamente todos os dias (de segunda a segunda) e muito, muito cedo. Nesse último ano, o despertador tocou muitas vezes muitas horas antes do meu programado, mas eu nunca o deixei sair para um treino sem um beijo, mesmo que sonolento. Da mesma forma como ele nunca saiu sem me levar um copo de água ou um pouquinho de suco antes de ir colocar o corpo pra trabalhar.

Eu acompanhei o Dani em muitas provas e em todas eu me diverti e me apaixonei ainda mais. Peguei chuva, vento, sol, frio, mar, rio... E lá estava eu com o celular na mão para fotografar cada momento. De todas as provas que ele participou desde que nos conhecemos, só não estive na Asics 21k no começo de Agosto do ano passado pois tínhamos apenas uns dias de namoro, na meia maratona do Rio pois ele foi acompanhar uma amiga, na maratona de Chicago porque alguém tem que trabalhar nessa relação, rs, e em uma prova de travessia aquática porque ele foi de carona e o carro estava cheio. 

Do resto, lá estava em eu todas e posso dizer que essa foi a minha preparação para o grande dia, o dia do Ironman Florianópolis. Foi como uma espécie de treino, como se eu tivesse que cumprir essa “planilha” de staff porque depois de um tempo eu sabia exatamente como era a dinâmica de uma prova de triathlon, as particularidades, os melhores momentos para acompanhar as passagens, como sai, como entra. Aprendi a fechar roupa de borracha, a passar vaselina no pescoço, a fazer check list dos itens pré prova, a gritar “vai gatinhoooooo” sem passar vergonha. Aprendi onde colocar os suplementos, a como prender número na bike na melhor posição para foto, a passar máquina nos pelos da melhor forma possível. Aprendi como despachar uma bike (com e sem mala bike), o que colocar em cada sacolinha de prova, o que comer antes, durante e depois da prova.


Mesmo sabendo (quase) tudo sobre triathlon na teoria, eu estava muito nervosa nas semanas anteriores. Tinha medo da bike quebrar ou ele sofrer um acidente, tinha medo dele travar na água, tinha medo da corrida não ser da forma como ele esperou. E foi nesse turbilhão de emoções que eu descobri que o Ironman em si é uma grande festa (ok, longa e dolorida) de confraternização. Que essas preocupações claro que existem, mas que aquela não era uma prova comum, era uma prova diferente. Tirando os atletas profissionais da elite, todos que estavam ali tinham como objetivo fazer algo extraordinário, praticamente impossível para muita gente. Tratava-se de reimaginar limites para seu corpo, para sua vida. A grande maioria dos atletas acaba tatuando o símbolo do Ironman (a letra M) para marcar para sempre a sua história e ser reconhecido e destacado entre os triatletas “comuns”.

Eu descobri que o Ironman não é simplesmente pegar uma prova de "meio Iron" e imaginar ela em dobro. Não era uma questão de esperar “um pouco” mais para o atleta chegar. Tem algo diferente no ar e isso é tão explícito que chega a arrepiar. A cidade estava cheia de competidores e suas famílias e amigos. Por onde andávamos, tinha um atleta treinando, comendo, confraternizando, sorrindo ou com cara de apreensão. No dia da prova, posso dizer que eram centenas e centenas de camisetas personalizadas, cartazes, buzinas, megafone, faixas, bumbos, cornetas... Tudo para festejar a passagem dos guerreiros e nesse momento eu também descobri que não se torce ou se vibra apenas pelo “seu” Ironman: com o passar das horas, principalmente durante a maratona, a torcida se torna coletiva, a energia toda se une e se canaliza em motivação para todos. Enquanto os treinos para um Ironman são muitas vezes solitários, tive a impressão de que naquele dia, todos os atletas fizeram a prova junto com milhares de pessoas. 


Na nossa torcida oficial estavam eu, a Heliet e o Mauriel (pais do Dani), a Jana e o bebê (irmã e sobrinho/a), o Ednilson (cunhado), o Rogério e o Henrique (cumpadre e afilhado do Dani), o Ney e a Bárbara com o fofo do Lucca, além do Chaves, Juju e Carmen (todos amigos do Dani). Durante a prova também teve a Tati e o Sérgio, o Luiz e sua esposa Alexandra (amigos de treino da Medley), o Leandro (um outro amigo do Dani) e uma torcida remota composta por dezenas de amigos que puderam mandar energias positivas antes através de um vídeo motivacional que organizei.


largada é um capítulo a parte. Com exceção dos profissionais da elite, todos largam juntos, ao mesmo tempo. Estava acostumada com os "Troféu Brasil" da vida em que a largada é feita por categorias. No Iron, não tem essa de sexo, faixa etária... É todo mundo junto e misturado e isso significa mais de 2000 atletas entrando na água ao mesmo tempo. Minutos antes da buzina tocar, da pra sentir a tensão no ar, nos olhares daquele bando de “pinguins” paradinhos em frente àquele mar gigante: a roupa de praticamente todos é preta e as toucas são todas iguais. Encontrar o “seu” atleta é uma missão quase impossível... Não conseguimos ver o Dani dentro da área de largada, pois ele não foi até onde estávamos acampados. Depois, como eu imaginei, ele confessou que estava muito nervoso e preferiu curtir esse momento se concentrando.

Quando a buzina toca, não tem mais volta. Agora é pra valer! Alguns correm desesperadamente para o mar, outros vão caminhando devagar, nós expectadores ficamos ali parados admirando aquela cena linda. Sim, é muito lindo e nessa hora “cai a ficha” de todos... Aos poucos, começamos a nos mover lentamente para a área onde conseguiríamos vê-los pela primeira vez: mais ou menos na metade da distância da água, os atletas sairiam da água, correriam um pedaço na praia e cairiam no mar de novo. Conseguimos ver o Dani passando super bem nesse ponto. Um alívio imenso para meu coração apertadinho!


Depois nos direcionamos para a saída da água e nessa hora a aglomeração da torcida é bem maior... Dei meu jeitinho de me enfiar praticamente dentro do mar e consegui ver o Dani saindo da água, cerca de 13 minutos antes do esperado. Não dá pra descrever a alegria que senti! Estava com a Dona Heliet, minha sogra querida do meu lado e alguns amigos do Dani perto. Só conseguia gritar: ele saiu, ele saiu! A primeira parte do desafio tinha sido cumprida com louvor! Ainda tive tempo de ver a a Rafa, uma amiga guerreira, saindo da água e comemorando muito. Nesse momento eu e o namorado dela, o Vitor, nos abraçamos e choramos juntos. Foi um momento de catarse, uma emoção muito grande. Tudo aquilo que vivemos como staff, até então, estava de fato se materializando ali na nossa frente.

Nos despedimos e segui com a família e amigos do Dani para o retorno da área de bike. Nos acomodamos em um ponto muito bom onde conseguiríamos ver os atletas chegando de frente para o retorno dos 90k. Fizemos as contas do tempo, considerando a saída antecipada da água e acabamos nos separando, pois tínhamos um grupo com crianças e o restante do pessoal queria almoçar, ir ao banheiro e descansar. Eu não tinha fome alguma, rs... Estava focada em ajudar a torcida, passar as coordenadas, deixar todo mundo minimamente confortável.  Quando consegui organizar tudo, parei para comer um sanduíche com a família do Dani. Energias recarregadas, era hora de esperar nosso atleta.


Achei que seria mais fácil localizar o Dani chegando, mas velocidade e capacete são dois elementos que dificultam um pouco o reconhecimento das pessoas. Ficamos ali de plantão, sem desgrudar o olho por um segundo e íamos torcendo por todos os atletas que passavam por ali. Teve gente derrubando a garrafinha de água, muita torcida sem noção passando na frente das bikes (o que deixava o locutor bem nervoso), teve gente parando a bike para dar beijo na esposa (achei fofo mas beeeem perigoso), gente que passava sorrindo, gente que passava sofrendo. De repente, surge o “nosso” Ironman: gritamos, buzinamos, usamos o pompom e ele conseguiu nos enxergar e acenar para nós. Não aguentei a emoção de novo e comecei a chorar. Parecia que a cada hora, o sonho dele, que nesse momento também era o nosso, se tornava mais real.

Fizemos mais contas e nos dirigimos para o local da transição, onde entregariam as bikes e sairiam para a corrida. Fiquei boa em matemática porque não dava para confiar nos apps que reportam onde o atletas está, o delay é bem grande. Torcida a postos, fiquei esperando o Dani passar para entregar a bike, gritei e buzinei, e corri para chamar nosso Time Abib para se posicionar na saída da corrida. Conseguimos ver ele passando para iniciar a etapa final, a maratona e a partir daquele momento, todos estavam mais aliviados, uma vez que agora ele estava “na praia” dele, a corrida, nenhum problema técnico poderia interromper a sua chegada. E eu sabia que se uma câimbra ou lesão acontecesse, ele cruzaria a linha de chegada de qualquer forma, mesmo que se arrastando.


Naquele ponto em que estávamos, veríamos o Dani passando 4 vezes antes da linha de chegada e cada passagem foi uma grande festa da nossa torcida. Na primeira, teve a famosa pausa para meu (merecido) beijo, mas vimos que o Dani chegou ali com cara de sofrimento e estávamos mais ou menos na metade dor percurso, 21k. Meu coração apertou de novo momentaneamente e passamos a mandar todas as energias positivas do mundo para nosso guerreiro e, coincidentemente ou não, ele passou bem melhor por nós na volta dos 31k, com direito a beijo na mamãe dessa vez!


No meio tempo das voltas dele, passamos a torcer por todos os atletas que passavam. Todos! Líamos o nome nos números de identificação e era uma gritaria de incentivo só. A grande maioria correspondia ao estímulo e outros estavam muito focados para responder. Eu não vi ninguém sofrendo muito, ou se arrastando, como vemos em alguns vídeos motivacionais de Ironman. Hoje eu chego a conclusão que é porque estávamos acompanhando a prova entre os pontos de visualização baseados nos tempos do Dani, que estavam excelentes! Ou seja, as pessoas que passavam ali antes e logo depois dele estavam muito bem condicionadas e preparadas. Os que sofrem mais passaram horas depois, com certeza, pois a prova tem até 17h para ser concluída.

Assim que “nosso” Ironman passou por nós para seguir rumo aos 10k finais, ainda conseguimos ver o Nelsinho, outro amigo fera do triathlon, passar por nós e nos dirigimos para a tão esperada linha de chegada. A essa altura, eu já tinha certeza que o Dani conseguiria finalizar a prova abaixo da sua expectativa de tempo inicial, que era de 11h10. Eu sempre soube que ele foi bem conservador nessa estimativa, mas acho que ele estava certo em conter a emoção e evitar uma velada pressão para o resultado.

Quando chegamos ao local da chegada, a multidão era bem maior do que esperávamos. Tivemos que nos dividir para acompanhar a chegada do Dani. Coração a mil por hora, tinha acabado de começar a escurecer... Pelas minhas contas, ele chegaria abaixo de 10h40 de prova e ficamos contando os minutos até que vimos ele apontar no corredor que leva até a frase mais esperada de todas “you are na Ironman”. Conseguimos dar um hi-five pra ele e às 17h36m15s nosso querido Dani se transformou em um Ironman.



Para ele e a nossa torcida, essa conquista tinha um peso especial, já que ele tinha decidido se dedicar um ano exclusivamente para essa prova. Tenho certeza que ele aprendeu muito durante esse período, como ele mesmo relatouem um post do seu blog. Ver ele finalizando a prova bem, inteiro e feliz me deixou anestesiada. Eu não conseguia raciocinar muito bem naquele momento, só lembrei de chamar todos para uma foto final e para irmos ao local de onde ele sairia após pegar a medalha.

Demorou quase uma hora entre a chegada dele e a saída da tenda, mas lembrei que ele tinha dito que tentaria fazer um soro para hidratação e provavelmente iria fazer massagem e comer alguma coisa. Eu e a mamãe do Dani estávamos a postos para acompanhar a saída do nosso campeão e explodimos de alegria ao vê-lo saindo, com dores, mas bem. Nos abraçamos, nos beijamos e ainda conseguimos tirar uma foto geral na torcida no famoso M (com exceção do Juju e da Carmem que precisaram ir embora pois tinham o voo programado para a mesma noites). Depois, ainda fomos até a loja oficial da prova e compramos a jaqueta de Finisher para o Dani. Eu não conseguia muito acreditar no que os meus olhos estavam vendo, ele ai em pé, sorridente, caminhando pra lá e pra cá, mas aquilo realmente estava acontecendo.


Combinamos de jantar (sim, ele teve pique pra comemoração) e enquanto o pessoal foi para o restaurante, fiquei com ele para pegar a bike e depois seguimos para a casa para tomar banho e encontrar toda a turma. Tivemos o “nosso” momento pós prova, com muito abraço, carinho e palavras de agradecimento do Dani para mim. Todos me consideraram merecedora de uma medalha também, por toda minha dedicação durante esse um ano, mas meu maior prêmio foi vê-lo realizando seu sonho.


Quando começamos a namorar, o Iron parecia uma coisa muito distante... Até tivemos uma conversa na hora de comprar a passagem e fecharmos a casa em que nos hospedaríamos sobre como seria se não estivéssemos mais juntos, como seria. Posso dizer que esses 11 vezes voaram. Tudo foi muito intenso e passou muito rápido. Tem muita gente que acha que estamos juntos há anos, rs... E é assim mesmo que eu me sinto, como se o Dani sempre tivesse existido na minha vida.

Eu aprendi muito ao longo desse ano. Aprendi sobre paixão, compromisso, determinação, metas, dedicação. Aprendi sobre perseverança, força física, força mental, sobre superação. Aprendi a ceder, a entender melhor a rotina do outro, a fazer acordos e concessões. Fiquei (um pouquinho, rs) mais paciente. Aprendi a ouvir mais do que falar e que amor e admiração andam de mãos dadas. Aprendi que para ser um verdadeiro homem de ferro, é preciso ter um coração de ouro, e o Dani foi um príncipe. Apesar da rotina puxada de treinos, nunca me faltou carinho e respeito. É claro que tivemos que fazer algumas adaptações na rotina de um casal “normal”, mas eu acho que o saldo foi positivo. 

Tive que aprender a dormir cedo ou pelo menos lembrar de diminuir a luz do Ipad para não atrapalhar o sono alheio e tive de aprender a voltar a dormir depois que o despertador toca de madrugada. Passei a ir ao cinema em sessões da tarde e a valorizar um day off (dias sem treino na planilha) como ninguém! Abrimos mão de alguns compromissos sociais sim, mas conseguimos encaixar festas, casamentos, aniversários, batizados, encontros de família, de amigos, viagens. Sei que nesse um ano acabei priorizando a companhia dele porque o tempo disponível para nós se restringiu a algumas horas na sexta, sábado e domingo, intercalando o dia com treinamentos ou provas. Sei que os amigos de verdade entenderam os nossos momentos, mas deixo aqui o meu muito obrigada a todos que não só entenderam, mas torceram junto comigo.

Tenho que agradecer também ao Time Abib que esteve reunido em Floripa para a prova. Entraram na minha bagunça, compraram a ideia das camisetas e parafernalhas de torcida, curtiram a prova comigo, torceram muito pelo nosso Dani e estavam todos muito orgulhosos não só em vê-lo terminando a prova, mas também pelo seu excelente tempo!

Por fim, deixo aqui registrado o meu agradecimento ao melhor namorado do mundo, o meu Dani, meu Gatinho, meu Príncipe, meu Ironman que me acomodou de forma tão especial em sua rotina. Que sempre fez tudo o que pode para ficarmos juntos, dentro de uma ”normalidade”. Que encontrou tempo pra treinar comigo, pra estar comigo sempre que possível. Que me ensinou muitas lições de vida. Ele é meu parceiro, meu companheiro, meu amigo, meu amor. Espero ter sido a companheira que ele merece ter pelo homem incrível que ele é. Muita gente nessa rotina toda diz que eu fui uma namorada perfeita... Sei que fiz muita coisa bacana, mas também tive meus momentos de mimimi ao longo desse processo todo. Poucos, confesso, mas tive. Eu ainda não fiz um Ironman e por isso me dou ao luxo de não ser de ferro, rs. O importante é que eu aprendi que um sonho sonhado em conjunto tem o poder de transformar a vida de muitas pessoas.


Muita gente agora me pergunta se eu estou pronta para a próxima, porque ele eu sei que está, mas isso é assunto para ser tratado primeiramente no mundo off-line. :-) Confesso que tenho sentimentos bipolares nesse momento, acho que a depressão “pós Iron” também atinge os companheiros de jornada. Por hora, posso dizer que tudo o que vivi valeu muito a pena... Foi como eu disse no começo dessse post: nada mudou e, ao mesmo tempo, tudo!

- Eu te amo, Daniel Cintra Abib! -

quinta-feira, 11 de junho de 2015

Balanço Final

Ehhhhhh.... Chegou a hora de fazer um balanço final do meu ano sabático. 
Foi um ano inteiro de treinamentos (na verdade foram 13 meses) que me proporcionaram um descanso mental e muito cansaço físico... Mas foi um ano especial na minha vida, foi quando completei 40 anos de vida e descobri que os limites do meu corpo e da minha força de vontade são imensos.

Além da minha mudança física, acho que o que mais mudou na minha vida foi a maneira de "ver / ler" a vida, amigos e a minha relação de trabalho. Sempre fui muito workaholic, me orgulhava disso e deixei um pouco de lado minha saúde e satisfação comigo mesmo. Neste ano de treinamentos tive muito tempo para aprender mais dos meus limites (físico e psicológico), entender como é importante o descanso (sim, descansar faz parte do treinamento) e minha relação com as pessoas.

Conheci muitos amigos no esporte, e são amizades sem interesse, sem segundas intenções, apenas somos amigos porque gostamos das mesmas coisas, fazemos companhia uns aos outros e curtimos uma endorfina. Claro que tem pessoas que não consegui me aproximar tanto, porque no esporte ainda tem muita inveja, ostentação (ciclistas são muito metidos e querem ter o melhor e serem o melhor o tempo todo), competição não-saudável, e isso me ajudou também a enxergar um pouco mais atrás das máscaras das pessoas.

Fiquei muito mais paciente porque no esporte nada vai te trazer resultado no dia seguinte. Nada... Não tem mágica, músculos e condiciamento não veem em pílulas ou em embalagem de suplementos. Tem o doping, mas isso não é para pessoas inteligentes que querem apenas se divertir com o esporte.



Me tornei perseverante e muito dedicado, porque não havia tempo ruim ou desculpa para desviar do meu objetivo. Eu sou muito nerd, muito comprometido, muito mesmo... Difícil eu faltar em um treino.

Também vi que o trabalho faz falta, a convivência produtiva com outras pessoas, com objetivos em comum para crescer e gerar um mundo melhor. O dinheiro faz falta também.. MUITO :-)  

O trabalho não é (ou não deveria ser) nosso mestre, que dita nossa vida e comanda nossas ações. É uma atividade que consome a maior parte do tempo útil do dia, aonde temos que estar para ganhar dinheiro (lógico) e também nos divertir.

E, por falar nisso, o esporte e o ano sabático me ensinou que eu posso me divertir suando e sofrendo. A minha maratona foi composta de 42 km de brincadeiras com as pessoas nas ruas. Meu Ironman tem muitas fotos comigo sorrindo, mesmo com dores. Nos treinos eu falava "bom dia / tarde / noite" para muitos que passavam ao meu lado. E como tem brincadeiras com amigos, de tudo qualquer tipo... 

Eu sempre fui uma pessoa muito fechada, introspectiva, "na minha"... Quantos e quantos relatos neste blog eu não falei que conheci pessoas, conversei com estranhos, fiz novos amigos... Nunca consegui me sentir tão bem junto de pessoas que não conheço e pelo esporte criar um laço de amizade. Virtuais ou não, fiz muitos amigos e parceiros de treino / corridas. 

Foi um ano especial... Meu aniversário de 40 anos teve até um bolo personalizado... Um dos melhores aniversários que já tive. 




Mas... voltando ao balanço final do ano esportivo, este foi o cronograma que eu tracei junto com a Run & Fun para esta aventura de transformar um sedentário num Ironman.




1. Milestone - Início do Ano Sabático - Eu comecei o ano sabático no dia primeiro de abril de 2014, depois de um acordo de não renovação do meu contrato de trabalho com a empresa que estava atuando. 

Para chegar nesta decisão eu primeiramente conversei com um dos meus treinadores, o Sílvio Camargo da Run & Fun, sobre este sonho. Na conversa com ele perguntei quais eram as chances de um cara que nunca tinha feito um Triathlon Olímpico terminar um Ironman. Ele não me garantiu sucesso, mas disse que iria batalhar muito para que tudo desse certo.

A próxima fase foi ver a parte financeira e principalmente as possibilidades de recolocação no mercado. Fiz muitas contas e vi que tinha condições de me manter neste ano e aguentar algum tempo após o Ironman sem trabalho. A recolocação, vendo hoje, não está nada fácil devido a condição da economia do Brasil.

Por último, conversei com meus pais e tenho certeza que eles não gostaram da decisão, pensaram que eu era um doido (ou vagabundo) e que aquilo era uma decisão de um cara que está delirando. Eles tinham razão :-)

O mais importante da decisão foi a preparação da parte psicológica, pois sabia que uma pessoa acelerada como eu, workaholic e muito comprometido, teria de mudar muito do meu dia a dia para poder me adaptar às novas atividades do esporte.

Mas, usando o que aprendi no mercado de trabalho como gerente de projetos, tracei metas, milestones, contingências, controle budget projetado / realizado, e análise de riscos. Em especial, me preocuparia com fatores como: 
  • Contusão durante este ano - a ação em caso de lesões seria inicialmente tratar e ver se não atrapalharia os plano para a prova. Caso a lesão atrapalhasse consideravelmente o plano de fazer o Ironman, iria abortar e voltar ao mercado de trabalho de forma antecipada. E tenho que agradecer muito a "minha máquina" que respondeu perfeitamente durante todos estes meses.
  • Desempenho inapropriado - se meu rendimento não estivesse de acordo com o planejado precisaria fazer um replanejamento de expectativas ou abortar o sonho
  • Problemas com recolocação - ao terminar o ano sabático deveria ter uma margem financeira para me manter por alguns meses sem trabalho

Então, juntamente com os treinadores, defini algumas provas para servirem de referência para entender se tudo estava caminhando conforme o plano.

2. Milestone - Primeiro Triahlon Olímpico - Eu tive um problema não previsto para poder completar meu primeiro Triathlon Olímpico, que possui a distância de 1.500 metros de natação, 40 quilômetros de ciclismo e 10 quilômetros de corrida, conforme relatei no post Meu Primeiro Triathlon Olímpico.

Não contava com este imprevisto, meu sub-consciente me fez uma surpresa e tive problemas sérios para completar uma distância muito menor que meu desafio no Ironman. Mas, em 1 de junho de 2014 consegui fazer a prova na USP e saí feliz da vida, mesmo com um tempo final que não empolgaria ninguém.

3. Milestone - Primeira Maratona - Mesmo vindo da corrida, nunca havia passado pelo desafio de correr uma maratona, e é com esta modalidade e distância que um Ironman termina. 

Em conversa com outros amigos eu sempre escutava que seria bom fazer 2 ou 3 maratonas antes de um Ironman e eu não tinha nenhuma no currículo. 

Comecei a treinar mais intensamente para a prova, em média 5 vezes por semana, mas não parei de pedalar e nadar. Muita musculação, comecei a controlar melhor a alimentação e suplementação e me sentia bem em treinar corrida, meu esporte favorito (minha melhor modalidade).

Acredito que ninguém poderia prever uma prova tão fantástica como fiz na Maratona de Chicago. Claro que não bati recorde ou peguei podium, mas uma pessoa de 39 anos, correndo a primeira maratona, ex-gordinho, com joelho operado, problemas de bronquite e asma na infância, fazer a prova de Chicago em 3 horas, 15 minutos e 34 segundos foi um espanto.

Relatei minha prova maravilhosa no post: Minha Primeira maratona.

Tudo ia bem no plano do Ironman... Esta maratona foi um divisor de águas, acho que neste momento os treinadores começaram a acreditar na ideia que eu poderia completar o Ironman.

4. Milestone - Meu primeiro Triathlon 70.3 - Bom, já sabia que podia correr. Já sabia que eu conseguia nadar sem me afogar (ainda faltava muito para os 3.8 km do Ironman). O pedal não estava ruim e começava a mostrar bom desempenho com a compra da Cervélo P3C.... Mas será que eu conseguia fazer isso tudo junto?

A prova Challenge Long Distance (também conhecida como Dash ou Challenge 70.3), que possui 1.9 km que natação, 90 km de ciclismo e 21 km de corrida foi escolhida para ver como me saía fazendo força por metade da distância do Ironman. 

Vejo hoje que não me preparei bem para esta prova. Depois da Maratona de Chicago tive uma pequena dor no joelho direito e por outros motivos treinei muito menos do que deveria em Outubro / Novembro. Minha meia maratona da prova foi deprimente, fiquei muito chateado mesmo com meu desempenho.

No entanto, a prova como um todo foi muito boa... Não excelente como poderia ser, mas consegui superar o medo de um mar mexido (seria o mesmo mar que encararia no Ironman), conheci algumas boas subidas da que iria voltar a visitar em maio de 2015 e mostrou que meu corpo aguentava a porrada. 

Este é o relato da prova: Challenge Florianópolis 2014

Ainda tinha espaço para melhorar bastante, mas este milestone era "especial" para saber que tudo estava indo no caminho certo. Nesta prova comecei a planejar o tempo alvo do Ironman, como fiz um 70.3 em 4 horas e 56 minutos, dava para pensar em algo abaixo de 12 horas para maio.  

5. Milestone - Início da Preparação para o Ironman - No dia 12 de janeiro a Run & Fun iniciou oficialmente o plano de 5 meses para a prova. Até fizemos um café da manhã no dia 17 de janeiro para entendermos detalhes do treinamento e conhcermos uns aos outros, e este momento foi registrado no post: Lançamento do Plano de Treinamento

Gostei do que vi... a partir daquela data teríamos treinamento de corridas às sextas feiras, longos e divertidos treinos.... Teríamos treinos de transição no sábado, mais curtos e com intensidade... Teríamos longos de bike no domingo, vários... 

O plano parecia excelente.... Durante as semanas percebi, no entanto, que tinha mais tempo e disposição para esticar os treinos. Fiz a grande maioria dos treinos de corrida e bike acima do planejado pela minha assessoria. Foi ótimo, mas foi uma grande burrice, porque eles haviam feito um plano de carga e eu desrespeitei isso. Me coloquei em situação de risco, poderia ter uma lesão e poderia acabar com o sonho do Ironman.

Em Janeiro / Fevereiro tive que fazer a renovação da academia aonde nado, e tomei a decisão mais perfeita sobre overtraining: nadar 5 vezes por semana. A natação, diferentemente da bike e da corrida, não tem tanto impacto e a possibilidade de lesão é menor (não é nula, mas é bem pequena). E minha natação era (e ainda é) horrível, precisava ganhar horas de água para me dar confiança que tudo ia sair bem.

Também comecei a fazer musculação 3 vezes por semana... Além de aulas de alongamento e CORE (abdomen). 

O treinos estavam indo conforme o plano, e meu corpo respondia muito bem.

6. Milestone - Triathlon Internacional de Santos - Este é o milestone menos importante ou relevante. A Run & Fun colocou esta prova de distância olímpica como parte do processo de preparação, mas no fundo não teve um desafio enorme para ser finalizada.

Fiz um tempo que me surpreendeu, fechar um olímpico em 2 horas e 16 minutos não estava na minha lista de prioridades. Minha bike foi para 38 km/h (no Garmin foi 37 km/h) e isso assustou até os meus treinadores.

O relato da prova é este: Triathlon Internacional de Santos

A prova em si é boa, o trajeto do pedal é ótimo, mas o custo / benefício não compensa. Dificilmente farei ela de novo.

Um pouco depois da prova revi minha estimativa de tempo para o Ironman, se depois do Challenge eu achava que dava para fazer algo abaixo de 12 horas, comecei a sentir confiança que dava para fazer 11 horas baixo. Escrevi este post no dia 26 de março com um chute de tempo baseado em treinos e simulados: Apenas uma Previsão

Antes de mais nada, sub 12 horas e 11 horas baixo é, para mim, bem diferente... Sub 12 é qualquer coisa próximo a 12 horas... Já a marca de 11 horas baixo é muito pouco acima de 11. 

7. Milestone - Ironman 70.3 de Brasília - Agora sim a coisa começava a ficar séria. Já tinha feito vários treinos longos de bike e corrida, estava nadando de 12 a 14 quilômetros por semana, alimentação sob controle, motivado, animado e sentindo a água bater no pescoço porque a prova já se aproximava.

A prova era muito mais que um check-point para saber se o plano estava nos eixos, era o momento de saber como seria a alimentação para o Ironman, qual a velocidade colocar na bike, tirar a ubucubaca da meia maratona do Challenge, ganhar confiança nas transições (seria o mesmo modelo do Ironman), como transportar a bike, o que colocar nas sacolas, entre outros fatores.

Infelizmente, logo alí nos últimos passos para o Ironman, na prova quase na reta final da preparação, travei de novo na água... Putz, voltava o trauma no início da minha trajetória, e foi desesperador. Com muita sorte, controlei minha ansiedade, coloquei a cabeça no lugar e voltei para a prova.

E a prova foi maravilhosa... Saída da água me sentindo mal, fiz uma bike maravilhosa de 37 km/h (no Garmin deu 36 km/h) e uma meia maratona fantástica com pace final de 4:55 min/km o que me deu a 25 posição na prova na minha categoria.

Este foi o relato da prova: Ironman 70.3 de Brasília

Enfim, tudo estava certo para o Ironman.... Haviam mais treinos longos, 160 km de bike, 30 km de corrida, simulados e treinos de velocidade, mas o pesado já havia sido feito.

7. Milestone - Ironman Brasil - Florianópolis - Ahhhhh nem preciso falar da prova, né? Natação maravilhosa, bike super consistente e maratona de respeito (com margem de melhorias). 

A prova foi descrita no post: Ironman Brasil - O Grande Dia

BALANÇO FINAL

Como balanço, tenho alguns números para apresentar extraídos do Garmin Connect.


Foram simplesmente 458 horas de treino.... Quase 6.700 quilômetros percorridos nas 3 modalidades. 

Considerando 130 dias de treinamento (aproximadamente) e assumindo as 366 atividades realizadas (contando musculação e alongamento), foram em média 2.8 atividades por dia. 

Foram 21 dias de descanso (Day OFF), mas considerando que antes e depois das provas haviam 4 dias sem atividades, foram 13 dias sem atividade esportiva.

Os meses de treinamento ficaram assim:






O que eu teria feito diferente?

  • Teria feito mais musculação, as vezes eu fui bem relapso com a divina arte de puxar ferro (odeio musculação)
  • Nas últimas 3 semanas antes da prova me descuidei da alimentação e engordei bastante. Fiquei gripado, comi muito e não treinei o tanto que precisava
  • Teria treinado mais sozinho, especialmente em corridas depois das transições. Em alguns momentos eu saía para correr com outros amigos que estavam em condicionamento diferente que o meu e acabava acompanhando o pace deles. Isso foi ruim, poderia ter feito treinos melhores. De outro lado, foi bom ter a companhia de amigos que vou guardar para sempre em minha memória.
  • Fiz pouquíssimas (ou não fiz) transições depois de treinos longos de bike. Deveria ter encaixado pelo menos uns 10 km a 15 km depois dos treinos de mais de 100 km de bike, e senti muito a falta de treinos no plano da Run & Fun. Eu deveria ter feito por conta própria
  • Desisti de treinos que não devia, especialmente um simulado há 3 semanas da prova no Riacho Grande e me arrependi de não ter insistido, mesmo com o corpo ruim da gripe
  • Acho que corri pouco, é a modalidade que mais gosto e não priorizei tanto como eu deveria. Dá para ver no gráfico abaixo que a bike e natação tiveram uma crescente em março e abril e a corrida decaiu.
  • Nutricionista? A Mandi fica me atormentando até hoje sobre nutrição, mas não sei se pequei nesta área. Talvez devesse procurar um profissional
  • O descanso depois da maratona de Chicago foi insuficiente, deveria ter tirado um tempo maior antes de voltar aos treinos. 
  • Fiz mudanças de última hora, como suplementação na prova, sault stick, Aero Drink, encher pneus, roupas, etc. que no fundo não me prejudicaram, mas não se deve fazer estreia alguma ou qualquer mudança no dia do Ironman ou de qualquer outra prova.

Fico pensando se era necessário mesmo fazer um ano sabático (parar de trabalhar) para ter feito uma prova assim. A resposta vem bem fácil: NÃO.

Quase todos nesta prova trabalham, estudam, tem família, filhos e fazem a prova. Não precisa de dedicação exclusiva para isso.

Mas..... com minha decisão de largar o trabalho, tive a oportunidade de me preparar muito melhor. Se eu estivesse trabalhando, não poderia nadar  5 vezes por semana. Não poderia fazer musculação 3 vezes por semana ou alongamento / CORE. 

Sim, o dia tem 24 horas e até seria possível encaixar tudo que fiz e também o trabalho, mas não sei se com esta carga de atividade eu descansaria o suficiente para render bem nos treinos, e dormir (recuperação muscular) é parte primordial num treinamento.

De balanço da prova, levo excelentes recordações de uma maratona excepcional e um Ironman que nunca vou esquecer. 

Ainda fico devendo um post de agradecimento a pessoas que me acompanharam, apoiaram e conviveram comigo neste período. Não posso fechar este blog sem agradecer tudo que recebi de pessoas especiais. 



domingo, 7 de junho de 2015

Ironman Florianópolis 2015 - O Grande Dia

Chegou o grande dia.... Hoje é dia de diversão... Hoje é dia de passar sufoco... Hoje é dia de Triathlon... O dia aguardado há mais de 12 meses chegou.


E nem posso dizer que era um sonho de infância, porque imaginava que só alienígenas poderiam participar e terminar esta prova. Era muito mais uma teimosia, um desafio pessoal, uma provação do que um sonho, mas o dia chegou e era hora de mostrar se os treinamentos e dedicação deram resultado.





Os preparativos

Acordei as 4:00 da manhã, com pouco tempo de sono. O Garmin Vivofit marcou 7 horas de um sono relativamente movimentado, mas ao acordar já me sentia animado para a prova.





O café da manhã foi reforçado, e como era necessário comer bem para aguentar o "tranco" do dia de hoje. Eu comi:

  • Bisnaguinhas (podia faltar bisnaguinhas no dia da prova???)
  • Geléia de morango
  • Peito de Perú com Queijo
  • Mel
  • Banana
  • Suco de uva Integral
  • Forten
  • Água de coco

Além disso, tomei uma cápsula de multi-vitamínico, 2 cápsulas de BCAA e Fisioton, basicamente o que tomo todos os dias antes das atividades físicas.

Depois de alguns minutos a Rafa chegou na casa. O Nelsinho estava acordado, e todos ansiosos para começar a prova. 

Depois do café saímos eu, Rafa, Nelsinho e Mandi rumo a Expo para fazer os últimos acertos na bike e deixar comidas e água nas caramalholas. A distância de nossa casa a Expo é um pouco mais de 1 km, então a caminhada nem é tão longa assim.

Estávamos com a sacola branca cheia de coisas nas costas, com água e outras acessórios. O Nelsinho propôs um trote até nosso destino, mas eu, Rafa e Mandi preferimos ir caminhando, estávamos on-time no cronograma. Ele foi e não encontramos nosso amigo mais.

A avenida dos Búzios estava com muitos atletas caminhando para a Expo, alguns carros dividindo uma única via (duas faixas de uma pista) pois a outra faixa já estava reservada para a prova, ainda estava muito escuro e fazia frio (algo em torno de 13 graus). 

Ao chegar na Expo, combinamos com a Mandi de encontrar na saída sentido nossa casa e entramos eu e a Rafa para fazer a preparação de tudo.


Entrei no local da bike e fui direto retirar a capa protetora da Cervélo e vi que ela estava bem molhada pela umidade da noite. Imagina se não estivesse coberta. Coloquei água na caramalhola que estava com Malto + Dextrose + BCAA + Endurox R4 (cada um com 2 doses) e deixei esta caramalhola embaixo do top-tube. Ficou bem pastoso, mas era a intenção mesmo esta concentração.

Depois peguei a bike e fui nos mecânicos da Shimano que estavam em um box bem grande com vários profissionais ajudando. Ao chegar lá, peguei uma fila pequena (umas 4 bikes) enchendo os pneus e esperei pacientemente. 

Estava com a cabeça a mil, sem prestar muita atenção nas coisas ao redor, quando o rapaz que estava na minha frente andou e pediu para o mecânico subir "um pouquinho" o banco dele. Eu fiquei assustado, fazemos o bike fit (e pagamos caro) para acertar a bike para os treinos longos e o cara vem, no dia da prova, pedindo para subir um pouco o banco? Hahahahahaha ele não tem noção nenhuma o que é um fit ou o estrago que uma posição ajustada "no olho" pode proporcionar. Olhei para a bike dele e notei que era uma road bem antiga com um clip preso sob o guidão totalmente desalinhado, e ai percebi que o cara não tinha noção do tamanho do desafio que ia encarar.

Chegou minha vez, pedi para os mecânicos calibrarem com 140 psi e foi algo que me arrependi muito. A recomendação da ZIPP é que para pneus tubulares e rodas 808 / 404 é para colocar 126 psi, eu pedi 140 porque sou idiota e achei que com menos contato no solo teria uma melhor performance. Já já explico o motivo do meu arrependimento.

Com os pneus calibrados, voltei para meu lugar da largada, #DICA verifiquei as marchas da bike (volantinho / coroa pequena e catraca média - possivelmente 15 ou 16) e comecei a colocar os gel de carboidrato no quadro. Eu não ia colocar gel na bike, mas como todo mundo olhava para mim com cara de espanto quando dizia que eu ia sem gel, resolvi colocar por desencargo de consciência. Deu um pouco de trabalho, porque a fita crepe que levei não fixava na bike molhada. 

Terminei com a bike, recolhi a capa e fui para a área das sacolas. Peguei a sacola amarela para poder colocar água na garrafinha que estava com uma dose de Endurox R4 que seria usada na transição. Deu um trabalhão tirar o capacete, toalha, sapatilhas para ver se tudo estava certo. Conferi o número do peito, vi os suplementos e alimentos e coloquei tudo de volta. 

Atravessei o corredor e fui na sacola azul. Fiz o mesmo procedimento, tirei tudo do lugar, coloquei uma meia dentro de cada tênis, coloquei a água no Endurox R4 na garafinha e comecei a colocar os gel na cinta que estava com meu número do peito e só havia chegado no final do dia de ontem com minha família. Tive que fazer o serviço duas vezes, porque percebi que coloquei tudo de cabeça para baixo quando terminei.... 

Bom, coloquei tudo no lugar e voltei para a bike porque comprei um salt stick na feira na sexta ou sábado e fui encaixar na bike.



Qual a chande de as 5 e pouco da manhã, sem nunca ter usado ou lido o manual de instrução, eu conseguir colocar isso na bike? Zero.. Claro.... Tentei, tentei, tentei e tentei colocar as cápsulas no stick e não conseguia. Até instalei a porcaria embaixo do clip numa posição super legal, mas as pílulas não entravam. Desisti. #DICA teste tudo, absolutamente tudo, antes da prova, nenhuma novidade é para se estrear no dia da prova.

Já pronto para ir embora lembrei que deixei a sapatilha na sacola amarela da bike. Vai o Daniel novamente pegar a sacola, tirar o capacete, água, toalha, etc. até chegar a sapatilha e encontrar as borrachinhas para prendê-las na bike.


Neste momento a Rafa apareceu me procurando, ela já tinha feito tudo, encontrado a Mandi, voltado para a Expo e eu não tinha terminado. Ela foi comigo na minha bike, viu como eu deixo a sapatilha presa na bike, dei a última checagem e saímos do local de transição.

A Rafa estava nervosa, achando que estávamos atrasados. Realmente estávamos, porque combinamos com a nossa torcida de encontrar as 5:30 na casa aonde estávamos hospedados e eram mais do que isso quando saímos de lá.

Fizemos até um trote leve voltando para casa. No meio do caminho encontrei o Alain e o Willian da Run & Fun que foram assistir a prova. Me desejaram boa prova, me despedi e seguimos caminhando para a casa.

Ao chegar lá todos os nossos amigos e parentes estavam esperando. Falei um "oi" rápido e um abraço em cada um deles, pedi licença e fui me trocar. Coloquei o short e o top da Run & Fun, coloquei a fita frequencímetro e encharquei de condicionador de cabelos nas pernas e coloquei a roupa de neoprene por cima. É uma dica que aprendi no meu primeiro triathlon, o condicionador de cabelo facilita retirar a roupa após a natação.

Peguei o chip, coloquei na perna. O Garmin 920xt estava próximo, coloquei no braço esquerdo, peguei a toca e óculos e estava pronto para sair. Estava com uma garrafinha de Endurox R4 com água na mão, e realmente esqueci de um último gel para tomar antes da largada.

Mais alguns minutos lá fora com a família & amigos e nos dirigimos (minha galera e da Rafa) para a linha de largada. Nossa casa é muito próxima, demoramos uns 10 minutos porque a via estava bem escorregadia. 

O local de largada estava lotado. Meus pais e amigos conseguiram um local colado ao "curral" dos nadadores. Como era próximo as 6:20, me despedi de cada um deles, ganhei o famoso "boa sorte" e fui para o aquecimento. 

Uma fila enorme, imensa, intransponível de pessoas no caminho até a água. Eu pedia licença e mostrava afobação, as pessoas que estava apenas procurando espaço para assistir não entendia que os triathletas precisavam ir para a água aquecer e paravam no meio do caminho.

Com muita dificuldade cheguei a água, coloquei o óculos, e fui para o oceano com a equipe da prova já pedido para os nadadores saírem. 

Tive a oportunidade de fazer uma coisa que sempre me programo para dar calma. #DICA Eu entro no oceano e fico flutuando com a roupa de neoprene e isso me dá uma tranquilidade enorme em saber que a roupa me faz flutuar e que com ela não morrerei afogado. É muito mais psicológico do que qualquer outra coisa, sei que não vou morrer afogado, mas isso me deixa mais relaxado.

Depois nadei por no máximo 10 minutos, muito leve, controlando a respiração e me concentrando para a prova. 

Quando os fiscais me obrigaram a sair da água, gelada diga-se de passagem mas não insuportável, fui para o "curral" e logo encontrei a Rafa. 

Fiquei com a Rafa o tempo todo, fui até a margem da praia com ela para que ela molhasse o óculos e fixasse no rosto (ela não tinha entrado na água), voltamos e ficamos estáticos no mesmo lugar. A Rafa estava tremendo de frio, eu estava com a adrenalina tão a mil que não sentia frio, só ansiedade e medo.

As 6:45 da manhã deram a largada para a prova dos profissionais. O som da buzina me doeu o coração. Ficamos acompanhando a elite e vendo o caminho que eles faziam. Conversei com a Rafa e confirmamos que estávamos posicionados do lado esquerdo, oposto de onde os profissionais e a grande maioria dos atletas amadores estavam, porque queríamos ter uma largada mais tranquila enquanto o pessoal se degladiasse no melhor ponto de largada. 

Logo depois as meninas profissionais largaram e era questão de minutos para nossa largada. 

Neste momento senti vontade de vomitar. Abaixei na areia da praia, respirei fundo e consegui me recompor. Tava difícil segurar a ansiedade, o medo, tudo... Lembrava de tudo que passei para estar naquele lugar, e não era naquela hora que ia ser fraco.

A Rafa me deu força, mas também estava super nervosa. Todos estávamos. 

Em ponto, as 7:00 horas da manhã a largada foi dada.

A natação

O barulho da buzina soou e o pessoal bateu palmas e começamos a caminhar para a praia. Alguns atletas corriam, outros estavam parados esperando um melhor momento, e eu e a Rafa fomos caminhando com tranquilidade até a água.


Eu só pensava em me controlar, porque sempre saio "rasgando" na natação e como o ritmo de respiração não está encaixado, eu canso rápido e meu rendimento cai. 

Além disso havia uma multidão de atletas nadando ao meu lado, não era hora de fazer força e se debater com o pessoal. E olha, querendo ou não, há muita porrada na natação. Alguns por maldade, outros apenas falta de espaço, batemos a mãos e pernas uns nos outros. 

Então, nos primeiros 200 a 300 metros, não dá para nadar de verdade. Quando se vai dar uma braçada, ela tem que ser curta ou torta para atingir a água. As pernas ficam muito presas pelas braçadas dos outros nadadores. É muito complicado.

O percurso da prova era este abaixo:


Lembro que durante a primeira parte (960 metros em direção a primeira boia) eu estava nadando e uma pessoa (sei lá se homem ou mulher, todos eram iguais de toca azul e roupa de neoprene), cruzou minha frente e passei por cima dela. Hahahahaha, Eu me assustei ao ver este corpo embaixo de mim, mas ele / ela seguiu a direção e eu segui a minha.

Ainda antes da primeira boia eu estava nadando e uma pessoa ao meu lado foi dar uma braçada e afundou minha cabeça na água como se tivesse dando um caldo. Nem dá para ficar bravo com estas pessoas, é um "acidente de trabalho".

O que ficamos nervosos são aqueles caras / mulheres que vem atrás e batem na perna uma vez. Tudo bem, acontece...  Ai acontece a segunda... Tudo bem, normal... A terceira também não é motivo de stress... A quarta começa a ficar chata... A quinta vez que eles batem na perna dá vontade de chutar a pessoa. Poxa, tá vendo que estamos na frente, desvia....  Bom, deixa pra lá.

O mar estava totalmente flat. Liso... Uma piscina... Estava muito frio, mas com a aflição da prova nem percebemos. Eu estava com roupa de neoprene sem manga, os braços sentiam um pouco mais, mas a compensação era que tinha os movimentos completos para as braçadas.

No caminho até a primeira boia o pessoal se dispersa e é formada uma linha grande de nadadores. Acontece que para contornar a boia, seja ela qual for, todos querem fazer a curva o mais próximo possível para evitar dar uma "barrigada" muito grande e se desgastar mais. Ai na primeira boia o congestionamento de nadadores ficou perigoso, porque todos diminuem a velocidade para fazer a curva, o número de atletas é exagerado e as pernas começam a se tornar um perigo. Os atletas param de nadar e começam a gritar pedindo para não usarem as pernas. Começamos a nadar peito, cachorrinho ou crawl com os braços até contornar a boia. Sem muitos incidentes, mas rolava um braço no rosto ou no corpo de outro atleta de vez em quando.


O trajeto até a segunda boia é mais simples, curto e como não havia ondas batendo à nossa direita, foi bem tranquilo. Os únicos problemas foram saindo da boia 1 e chegando na boia 2 devido ao excesso de nadadores juntos. 

Depois da boia 2, pegamos a direção da praia e era bem simples saber a direção porque havia uma bola vermelha enorme levantada na praia e também uma multidão de pessoas esperando. Neste momento a euforia da largada e o medo da água já tinham passado, e a natação já estava bem encaixada. Eu estava no meio de muitos atletas e peguei esteira quase todo o tempo. Nunca imaginei que a esteira fosse realmente ajudar na natação, mas pelo que vi no meu tempo final, ajudou muito. 

Ao chegar na praia deu uma sensação muito boa... Muito mesmo. Já havia percorrido mais da metade da prova até aquele ponto. Estava me sentindo tranquilo e não estava cansado. A água estava perfeita até aquele momento.


Saímos da água, passamos por um corredor lotado / abarrotado de pessoas torcendo. Já na areia da praia com os pés na água encontrei a Mandi e meus amigos. Não reconheci todos, o óculos atrapalha um pouco a visão e a adrenalina de sair nos deixa tão ligados que só pensamos em correr e voltar a nadar. 

Neste caminho passamos por um ponto de água e mesmo correndo dá para pegar um copo, lavar a boca para tirar o sal, tomar um pouco de água doce e voltar para a água.

A segunda perna do M foi bem mais simples. O número de atletas nadando lado a lado é bem menor e as porradas ficam menos frequentes. Lembro que tentei sair do lado direito aonde todos tentam seguir (caminho mais curto) mas não dava para ir para a esquerda porque vinha uma grande quantidade de pessoas atrás.

Era hora de colocar um pouco mais de velocidade... Já estava com 3/4 da prova percorridos e tinha uma esteira boa e consegui fazer um pouco mais de força até chegar a boia aonde o grupo de atletas novamente se agrupava e o perigo de uma pernada era maior. Voltamos a nadar sem movimentar as penas até porque algumas pessoas gritavam para que tomássemos cuidado para não nos machucássemos.

Notei que nesta boa até a próxima o mar estava mais mexido, mas não era tão ruim. Um pouco mais de marolas, mas sem muita correnteza ou ondas altas. O percurso até a última boia foi bem tranquilo.

Fizemos o contorno da última boia e agora era só voltar para a praia. Impressionante, como a vontade e terminar nos enche de energia. O ritmo chegou a 1:37 min/100m... Era só apontar a cabeça um pouquinho para fora, continuar na esteira e seguir nadando.

Ao chegar próximo a praia vi as pessoas se levantando e diminui um pouco as braçadas para poder me levantar e ficar em pé. Dá um pouco de tontura levantar depois de algum tempo só nadando na vertical, mas depois de tanto sacrifício superar isso é moleza. 

Olhei para um relógio da prova e marcava 1:13:00... Nem acreditava naquele tempo, minha previsão era de 1:25:00, estava com 12 minutos adiantado no planejamento. 


Lembrei de tudo que passei (e pastei) com a natação, o medo, as travadas, o desespero em saber da distância e da água fria, a preocupação em ter um mar agitado, de não conseguir ver as boias, de sair tão cansado que não conseguiria pedalar ou correr. Tudo passou, minha natação foi muito legal e saí inteiro para poder continuar a prova.

O meu ritmo foi excelente, fiz a prova para ritmo médio de 1:48 min/100m. Minhas expectativa era de algo em torno de 2:09 min/100m, pois era assim que eu estava treinando nos últimos dias. 



O que aconteceu para melhorar tanto? Acho que três fatores: a adrenalina da prova, a roupa de neoprene sem as mangas e principalmente a esteira na água me ajudaram muito. 

Comparado com a média do tempo da natação e todos os atletas que terminaram a prova, meu tempo foi quase 1 minuto mais rápido. Mas, se comparar com a média da minha idade, fiquei 10 segundos mais lento que o pessoal da categoria Masculino 40 a 44 anos.


Resumidamente, minha natação foi melhor do que a media, mas preciso melhorar para ficar dentro da minha categoria.

Saí da água na posição 174 da minha categoria ou em 843 entre os homens ou 912 no geral. 



A Transição 1 (T1)

Coloquei a mão nas costas, peguei o cordão do zíper da roupa e puxei (minha roupa abre o zíper da cintura para cima, é mais fácil tirar) e como já estava sem as mangas, a roupa ficou solta na metade do meu corpo. Comecei a correr até uma equipe de pessoas da prova, uns 20 a 30 que ficavam próximo a saída da água. Lá eles pediram para nós sentarmos no chão, duas pessoas pegaram a roupa e puxaram pelas pernas e a roupa sai rapidinho. 

Um cara que me ajudou a tirar a roupa disse: "Boa prova Daniel". Fiquei pensando como ele sabia meu nome, mas depois de alguns segundos me liguei que estava com meu uniforme por baixo e meu nome estava gravado lá. Comecei a rir sozinho :-)

Tirei os óculos e a touca, fiquei com a roupa na mão e fui correndo para a área de transição. Passamos por uma ducha de água doce que quase não ajuda nada, depois uma longa corrida até a área de transição.

No caminho encontrei o Alain e Willian da Run & Fun, tentei um high five (bater as palmas da mão) mas erramos o tempo, mas valeu a tentativa.

A primeira coisa que se faz é ir até os cabides e pegar a sacola amarela. Fui até a fileira D, tive um pouquinho de dificuldade em achar a minha pela aflição que estava, mas depois de alguns segundos localizei e fui me trocar.


Nas cadeiras do vestiário estavam muitos atletas, e fiquei feliz por estar no meio da "muvuca" porque isso significaria que eu estava junto com a grande maioria. Mas, por outro lado, demorei também para achar um lugar para sentar.

Com a sacola no chão, tirei o capacete e a toalha e coloquei de lado. Tomei um Forten, coloquei a roupa de ciclismo da Run & Fun, banda na cabeça (para evitar cair suor no olho dentro do capacete gota), número de peito, manguito, luvas, meia (esqueci de deixar a meia no lado certo, deu um pouco de trabalho para invertê-la), peguei a garrafinha de água com Endurox R4 e comecei a colocar toda a roupa da natação de volta na sacola. Deu trabalho, mas coube tudo. 

Deu muito trabalho para colocar o manguito e as luvas, porque o corpo estava molhado. Sim, eu levei a toalha, mas quem disse que eu queria parar para secar o corpo antes de me vestir?

Coloquei um capacete (é obrigatório), virei o Endurox R4 em uma única golada, entreguei a sacola para um membro da organização e fui para a bike. 

#DICA: Eu memorizei a posição da minha bike para poder ficar retirá-la com facilidade, mas ao memorizei olhando da saída da transição para a rua e não da saída do vestiário para as bikes. O que isso quer dizer? Sabia muito bem aonde estava a bike, tive que procurar pelo número da fileira e atrasei um pouco.

Na foto abaixo dá para ver o tamanho da encrenca. Eu memorizei a posição da minha bike vendo da barraca branca (canto superior direito) e quando saímos do vestiário entramos como se fosse no canto inferior esquerdo da foto. 


Então a #DICA é memorizar a bike como se estivesse saindo do vestiário e não no momento de deixar a bike parada.

O trajeto total entre a água e a saída da bike dá um pouco menos que 700 metros, e gastei um pouco mais de 8 minutos. 



Minha transição 1 não foi lá estas coisas... Tá, fiquei poucos segundos atrás da média geral e da média da minha categoria, mas faria algumas coisas diferente. 

Por exemplo, não levaria o manguito porque o frio não estava tão forte e ele me tirou bastante tempo para colocá-lo. O mesmo digo para as luvas, andar 180 km sem elas parece coisa do outro mundo, mas no fundo não fazem tanta falta assim. 


Peguei a bike com calma, estava com as meias já calçadas e capacete na cabeça afivelado e fui para a saída sem poder pedalar. Na linha de limite da transição, dei um impulso na bike, pulei em cima dela e comece o pedal.

Na saída encontrei o Caio Magano deixando a área aonde as bikes estavam. Foi muito bom saber que estávamos lado a lado, nossa natação foi muito igual e estávamos prontos para começar a diversão. O Caio é um grande amigo, bom saber que ele estava inteiro na prova.

O Ciclismo

Como eu coloquei o elástico para prender as sapatilhas na posição correta da bike, eu pedalei alguns metros com os pés sob as sapatilhas e a medida que eu ia ganhando velocidade e equilíbrio eu pegava um pé e colocava dentro da sapatilha e fechava o velcro. Depois fiz com o outro pé e estava pronto para pedalar forte. 

Muitos ciclistas saíram comigo, então não dava para pedalar solto ou no clip aquele momento. Um ou outro louco ia correndo e gritando pedindo passagem, até pensei em anotar o número deles para ver se aquela pressa toda ia dar resultado no final, mas deixei para lá (tinha coisa mais importante para me preocupar).

Como relatei, no início da madrugada eu pedi para os mecânicos da prova (equipe da Shimano) colocar 140 psi no meus pneus. Ao sair da bike eu conseguia sentir o chão batendo direto na roda e pensei: "Uuuaaauuu... os pneus estão muito cheios mesmo, consigo sentir as pancadas na roda".

Continuei pela avenida Búzios, fizemos uma curva bem leve sentido a rodovia SC-402 e neste momento consegui ir para o clip e tirar o volantinho, mas ainda com uma catraca leve. No final deste trajeto que leva a SC-402 havia uma curva bem fechada a esquerda, fiz a curva e senti meu pneu dianteiro sair todo da roda. 

O que estava presenciando não era o pneu muito cheio a ponto de sentir as pancadas do asfalto, estava com o pneu totalmente vazio e por isso ele não amortecia nada. 

Gelei imediatamente. Parei no acostamento e via aquele monte de ciclistas me passando, e eu não tinha ideia do que estava acontecendo. Havia duas possibilidades:

1) O pneu furou, teria que tirá-lo (o que leve um bom tempo), colocar o reserva, colá-lo, esperar alguns minutos a cola secar, enche com o CO2, torcer para tudo dar certo, colocar a roda de volta e continuar a prova torcendo para não ocorra um segundo furo.

2) Ter a imensa sorte do pneu estar apenas vazio, pois de manhã eu enchi nos mecânicos da Shimano e por algum motivo a válvula do pneu tubular e o prolongador que uso na roda ZIPP não ter fechado direito e o ar saiu. Se isso acontecesse, era só eu encher o pneu de novo e rezar para ele não esvaziar, e assim eu continuaria a prova.

Como a opção 2 é muito mais fácil do que a 1, tirei uma capsula de CO2 de traz do meu banco, destarrachei a ponteira, coloquei no CO2 e eu suava frio para conferir se minhas aulas teóricas de como usar um CO2 funcionaria.

Coloquei no pneu dianteiro e apertei a válvula. Em questão de 2 ou 3 segundos o pneu estava cheio e bastante duro. O CO2 tem uma pressão impressionante, tanto que a válvula (ponteira) fica gelada quando usamos. Coloquei o CO2 no bolso das costas da camiseta, montei na bike e voltei ao pedal.

Durante os primeiros 4 ou 5 km eu passava um ciclista e perguntava para o cara se meu pneu da frente estava murcho. Todos confirmavam que estava tudo OK e só parei de perguntar quando saímos da SC-402 e entramos na SC-401 que liga o norte da ilha ao centro. Foram momentos de completa tensão, porque estávamos no início do pedal, sem suporte mecânico e era a primeira vez que fazia aquilo. Ufa, deu tudo certo.

Com os pneus cheios e zunindo, comecei a descer marchas, deitar no clip e me divertir. A dúvida de qual velocidade eu deveria seguir foi definida, ia girar entre 33 km/h e 34 km/h e escutar mais o que o corpo falava do que ficar preocupado com a velocidade atual.

No dia anterior eu coloquei o suporte do Garmin Edge na frente do AeroDrink e isso foi ótimo, porque podia verificar a velocidade atual e média a todo momento sem olhar para o Garmin 920xt. 

Na SC-402, foi só alegrias. A bike estava muito ajustada, as pernas estavam respondendo muito bem, não ventava quase nada e eu ia passando, passando, passando outros ciclistas. Fiquei até impressionado, quase não estava sendo ultrapassado e aquilo me deixava mais animado. Por outro lado isso queria dizer que saí atrás de muita gente da água, então tinha mais a ultrapassar do que ser ultrapassado.

Na SC-402 passamos pelo pedágio com o primeiro ponto de hidratação. Usei uma #DICA de um amigo (não me lembro a bondosa pessoa que me falou isso) para não sair com as caramalholas cheias de água porque logo no km 15 (se não me engano) haveria colo nos abastecer. Antes desta dica eu iria sair com 3 caramalholas de água (o que significa 3x 750 gramas de peso a mais - 2.2 kg), sai com apenas uma e fui colocando água sempre no AeroDrink e ia bebendo com o tempo.

Passado o pedágio chegou a primeira subida mais leve. Estava ainda com as baterias cheias, soquei o pé no pedal e subi muito forte. A descida foi boa, segui o conselho do Leandro Ferreira (treinador da Medley) #DICA e coloquei a marcha mais pesada e fui girando o pedal sem fazer tanta força, mas colocando tração na roda traseira. Segundo ele esta estratégia ajuda a recuperar os músculos da subida e ainda aproveitar o embalo da descida. Funcionou muito bem.

Depois um bom tempo de plano e uma nova subida. Neste momento percebi que meu sensor de cadência de pedaladas não estava ajustado para a Cervélo P3C. Os últimos treinos antes de Floripa estava andando com a BMC SLR01 e a configuração do Garmin Edge estava para esta bike. Fui pedalando e acessando os menus para mudar a configuração, coisa que não recomendo fazer, porque qualquer deslize podemos pegar um outro ciclista, um cone ou buraco e acabou a prova. 

Consegui trocar a configuração e comecei a acompanhar a minha cadência de pedaladas. O Caio e os treinadores sempre falam que acima de 80 rpm é uma boa média, e era o que eu tentava fazer. 

Passei pela segunda subida, um pouco mais forte e peguei uma nova descida boa. Tudo ia bem.

Mais a frente a terceira e última subida pesada. Só que esta era bem bem bem pesada. A subida foi com uma marcha mais leve, mas estava com a terceira ou quarta catraca e fui quase toda ela em pé. 

Passado a subida veio a parte boa de toda subida: a descida :-) Pelos dados no Garmin cheguei a 63 km/h, deitado no clip e torcendo muito para nada entrar na minha frente. No final da subida estava embalado e com as marchas pesadas e continuei por alguns bons minutos a mais de 45 km/h.
Passado estas subidas, fazemos uma passada por uns viadutos / pontes e caímos na avenida Beiramar. Ela estava completamente lotada de fotógrafos, cheia de pessoas, carros parados para nnos dar prioridade nas ruas e a visão de pedalar a 40 km/h lá era fantástica. 


Passado uma grande parte do trajeto na Beiramar, entramos numa outra avenida (Av. Gustavo Richard) que quase leva ao aeroporto da cidade. Nesta avenida passamos pelo túnel e fazemos um zig zag por 2 pistas da avenida por 4 vezes (ou seja, usamo uma faixa para ir e outra para voltar). 

Mais força, mais pedal, mais água, mais carbo. Eu ia revezando, a cada 30 minutos eu tomava um carbo (gel) ou a mistura de malto + dextrina + bcaa + Endurox e a cada hora cheia eu comia uma bisnaguinha com azeite e sal. Confesso, a bisnaguinha é muito mais gostosa, mas é difícil de comer e pedalar ao mesmo tempo. 

Trocava o gel de carbo as vezes por torrone, e acho que era junto com as bisnaguinhas as coisas mais gostosas que eu levei para a prova. Não sei se ajudavam tanto, mas era gostoso comer :-)

Para finalizar a suplementação, a cada 1 hora eu tomava uma capsula de sal para repor os sais que era eliminado no suor.

Outra #DICA que dou é pegar água ou Gatorade em todas os pontos de hidratação. E olha que há vários, muitos mesmo... Eles também oferecem comida sólida, mas não tive coragem de pegar. 

Passado o vai e vem, pegamos esta avenida de volta, passamos pelo túnel de volta e só ai que notei que o túnel tem uma pequena subida no meio, ou seja, começamos a subir até o meio (independente da direção) e depois descemos mais rápidos. 

No túnel meu capacete fechado com viseira fumê perde bem a visibilidade, mas como o asfalto estava bem conservado, não tive problemas. 

Ah, outra constatação, há muitas motos com fiscais vendo se os atletas estão pegando vácuo. Nesta avenida Gustavo Richard havia o primeiro Penalty Box, uma área reservada para que os ciclistas parassem para cumprir punição. A regra era bem simples, caso você seja punido o fiscal da moto tem que te alertar e você tem que ter a ciência que foi punido, concordando ou não. O atleta era obrigado a parar na próxima área de Penalty Box e cumprir a punição, e caso não o fizesse seria desclassificado da prova.

Na área que referi a pouco estava bem cheia de ciclistas, bem putos da vida, mas cumprindo a punição para poderem continuar com a diversão. E as motos não davam trégua, a todo momento você as via passando ou escutava elas na sua "roda".

Não estava com medo dos fiscais, não ia estragar meu ano sabático e minha prova (que até aquele momento estava perfeita) com uma punição assim...



Voltamos pela Beiramar, pegamos a SC-401 e depois no início daquela subida mais pesada comecei a escutar um barulho bem forte. No início pensei que era um avião, depois parecia um trem chegando próximo de nós. Só não conseguia ver o que era, mas o barulho estava aumentando, aumentando e parecia ao nosso lado... Comecei a ficar preocupado....  No final da subida descobri o que era, havia um grupo de torcedores no final da subida batendo chaves de roda no guardrail entre as duas pistas. O som do metal x metal propagava muito forte e por muito tempo, e fazia um barulho fantástico.

Lá em cima a galera ia gritando e torcendo, foi muito legal ver aquela bagunça. E também legal porque a subida acabava e era hora de sentar o pé pra baixo e ganhar muita velocidade.

Ao invés de entrar na SC-402 de onde viemos na junção com a SC-401, seguimos em frente e passamos por mais 2 subidas razoáveis até fazermos o contorno e ai sim voltar para a SC-402 e chegar na entrada das praias de Jurere / Jurere Internacional. 

Na rotatória que leva até a avenida Búzios encontrei o Rafael Niro da Run & Fun que gritou uma palavra de incentivo. Uns 500 metros a frente estava toda a multidão de torcida, inclusive a minha com amigos, parentes e a Mandi fazendo muito barulho. 


Este ponto marcava o final da primeira volta de bike, 90 km já haviam passado e agora só faltava mais uma volta. Fiz estes 90 km com a média próxima a 35 km/h, um espetáculo para um ex-sedentário que colocou na cabeça que era possível fazer o Ironman.

A segunda volta foi um pouco mais dura.... Na SC-402 não senti tanta diferença, tive tempo de tomar um Forten, comi uma bisnaguinha e bebi bastante água, e segui em frente até a SC-401. 

Ai que o bixo pegou, sempre me falaram do vento da segunda volta do Ironman, e senti o que o pessoal comentava. No início ainda estava com alguma energia sobrando, tentava manter o mesmo ritmo da primeira volta. Mas comecei a perceber que para isso eu estava saindo da minha zona de conforto, precisava forçar muito as pernas para conseguir pedalar forte, fazer as subidas e descansar nas descidas já não era tão fácil.

Lembrei que meu treinador Silvio disse, se usar suas fibras longas todas na bike, pode não ter forças para fazer a maratona. Fazer força e lutar contra o vento poderia não ser uma boa estratégia, e resolvi aliviar um pouco.

Nesta volta, um pouco antes da maior subida sentido Beiramar, minha bolsa de suplementos que fica em cima do top tube (próximo à mesa / avanço) abriu. Não tive tempo de sair do clip e fechar e meu saquinho de pílulas de sal caiu. Droga, podia cair tudo que tinha substitutos, menos as pilulas. No fundo, as bisnaguinhas com sal quebrariam o galho, mas eu me preparei tanto para tomar as pílulas (tanto que comprei um maldito salt stick) e elas caíram. Enfim, sai do clip, fechei a bolsa e continuei pedalando.

A segunda volta foi mais sofrida, na primeira eu marcava um grupo de ciclista visando ultrapassá-los e assim teria uma motivação, ou marcava alguém e seguia com uma distância boa para poder manter minha velocidade competitiva.

Nesta volta poucos ciclistas estava próximos para eu usar como marca. Uma menina até me ajudou quase por toda a Beiramar e Gustavo Richard, mas depois eu passei ela e abri bastante. No final da volta ela me passou, mas ainda não cheguei lá.

Vez em nunca eu olhava o Garmin 920xt. Uma hora, depois do túnel, eu fui olhar e ele estava marcando a hora total da prova. Queria ver se os dados do Garmin Edge e do 920xt estavam alinhados, e fui apertar um botão para tirar do tempo total de prova e apertei a transição. Putz, havia acabado de marcar início do T2 no meio da bike. Ainda bem que estava com o Garmin Edge me orientando, porque senão ia ficar bem chateado.

Na avenida Gustavo Richard o vento estava bem ruim. Em alguns momentos até conseguia colocar 40 km/h, para compensar as curtas e as subidas aonde diminuíamos muito a velocidade, mas percebi que as pernas já estava apitando com bateria fraca.

Na volta para a SC-401 a maior subida foi já muito complicada. A primeira volta eu subi em pé, assoviando e passando ciclistas. Na segunda volta eu estava sofrendo, escutando o pessoal bater no guardrail e querendo me motivar, mas tive que colocar no volantinho e catraca leve, suar muito e subir fazendo muita força.



Passada a subida pesada vieram as 2 outras subidas mais leves, uma boa parte plana até chegar a entrada da SC-402 aonde passamos direto e encaramos a outras 2 subida até o retorno da SC-401. Olhei para o Garmin Edge, a média havia caído de quase 35 km/h para algo próximo a 33.7 km/h. Mas, em compensação, estavam faltando apenas 20 km de estrada para terminar. 

Neste momento vi um pelotão formado na minha frente, peguei uns minutos de roda, recuperei e voltei a colocar a cara no vento. 

Entrando na SC-402 vi um fiscal aproximando e continuei na minha tocada. Eles passaram por mim, marcaram um grupo que estava na minha frente e vi que a fiscal da garupa começou a marcar o tempo. Batata, uns 25 a 30 segundos depois eles encostaram de moto ao lado dos ciclistas e avisaram a punição. Os caras ficaram putos da vida, deveria faltar uns 5 km a 10 km para o final da prova e foram punidos. 

Passei pela rotatória de novo, cumprimentei o Rafael Niro e entrei para a avenida Búzios. Uma multidão nas ruas, pessoas gritando e fazendo festa, eu estava bem cansado e feliz por chegar naquele final, o Garmin Edge marcava uma média de 33.5 km/h e a parte perigosa da prova estava quase acabando.

Próximo a área de troca eu tirei os pés das sapatilhas com todo o cuidado e comecei a pedalar com os pés por cima. As lombadas, os buracos ou tudo que poderiam me derrubar estavam agora sob atenção máxima, não era hora de estragar tudo.

A entrega da bike foi bem estressantes. Vi no ano passado o "balé" do pessoal orientando os ciclistas como "soltar" a bike e comigo não foi tão fácil. Ao me aproximar próximo da área de entrega eu já estava bem devagar, mas o pessoal estava com outras bikes mas nãos, e não tinha para quem entregar a minha.

Momentos de tensão... Cair ali poderia significar me machucar, estragar a bike ou perder tempo. Diminui muito mais, fui em cima do cara que organiza o "balé" para que todos os membros da equipe possam pegar as bikes e deixei a bike em cima dele.



Minha bike quase caiu.  Eu quase cai porque eu não sentia minhas pernas. Sério, pisava no chão e não sentia elas. Estava com o Garmin Edge na mão, luvas e capacete na cabeça e tentava correr, mas o coração estava a mil. 

Enfim, cruzei a linha de transição e o ciclismo estava finalizado.


Minha bike foi muito legal... Especialmente a primeira volta coloquei uma velocidade muito boa sem forçar muito. Comi a cada 30 minutos, abasteci de água meu Aero Drink e tomei muito Gatorade, as bisnaguinhas e o Torrone foram além de nutritivos muito gostosos.

Além disso, consegui encher o pneu da bike sem muito desespero, controlei no final para poder entregar a bike sem cair, perdi sim pilulas de sal, mas foi a unica parte que acho que não saiu conforme o planejado. 

O resto foi tudo perfeito...  Durante os treinos havia programado de fazer a prova com uma velocidade de 32 km/h, consegui uma média de 33.47 km/h. Fantástico...


A média de cadência de pedaladas ficou um pouco abaixo do ideal, pedalei para 77 rpm e o ideal seria acima e 80 rpm, mas tudo acabou certo.

Fui de manguito para a bike, acho que não precisava. A temperatura média foi de 21 graus aproximadamente, nada de frio.. No final estava sim um pouquinho mais gelado (algo em torno de 16 graus), mas dava para suportar sem o manguito.


Minha bike foi muito melhor do que a média geral e a média da minha categoria de 40 a 44 anos.... Colocar 23 minutos na média é algo extraordinário para mim.

Tanto que sai da posição 174 na minha categoria para 114 no final da bike. Similarmente sai da 843 entre os homens para a 569. Também sai da 912 colocação geral e fui para a 609. 



Hora de trocar a armadura e realmente ir me divertir. A corrida é meu melhor esporte, ou pelo menos deveria ser :-)

A Transição 2 (T2)

Ainda sem conseguir correr muito bem, fui para a área das sacolas agora em busca da sacola azul. Estava desesperado para ir ao banheiro fazer o número 1, bebi muita muita muita água durante a bike e antes da prova, minha bexiga estava estourando.

Algumas pessoas fazer o número 1 na própria bike, ou param para fazer isso em banheiros químicos nos pontos de hidratação, eu precisava ganhar tempo e iria só na T2 mesmo.

Peguei minha sacola azul, deixei em cima de uma cadeira e sai procurando o banheiro. Sao saber que era só no final da saída, voltei para terminar de me arrumar. 

Antes de começar a me arrumar encontrei o Fábio Valeriano na saída da transição, ele possivelmente estava a 3 ou 4 minutos na minha frente, gritei o nome dele, ele cumprimentou e saiu para correr.

Eu tirei o tênis, alimentos, cinto com o número de peito e comecei a colocar as coisas da bike. Troquei a meia, também tive um pouco de dificuldade porque estavam do avesso, mas nada que atrapalhasse muito. Tirar a luva foi phoda, o manguito eu deixei para poder usar caso fizesse frio na corrida. 

Coloquei a viseira, tênis, número de peito, 2 frascos de Fortex, pilulas de sal, gel e torrone e enfiei não sei como todas as coisas da bike na sacola azul. Achei uma pessoa do staff e entreguei a sacola a eles. Fui para o banheiro e devo ter passado um século e meio fazendo o número 1. Ufa, que alívio.

Só que esqueci de tomar o Endurox R4 que estava na sacola, mas achei que isso não ia fazer falta.




A minha transição 2 foi melhor do que a média, mesmo passando um bom tempo no banheiro. Tá certo que é apenas 30 segundos melhor que a média da minha categoria ou 20 segundos melhor que a média, mas quer dizer que fiz as coisas mais eficientes. Nada que possa me gabar.


A Corrida

Agora só falavam apenas 42.195 metros de maratona. Coisa leve, fazemos uma corridinha assim quase todo final de semana. 

Mas realmente estava feliz... Já não podia morrer afogado, não tinha como cair e me arrebentar na bike, não havia muito o que me preocupar a não ser ter que caminhar todo o percurso, e se precisasse eu iria fazer isso.

Este é o momento que eu deixava a área de transição e começava a correr. Olha a cara de felicidade.


Também consegui uma foto deste momento. A foto foi meio de surpresa, o meu amigo Ney estava escondido e assustei ao ver que estava me apoiando lá na saída da corrida.


Tudo caminhava para uma prova excepcional, já tinha tirado um bom tempo na natação, fiz a bike com alguma dificuldade mas em um excelente tempo e ao sair para a maratona me sentia bem.

Saímos pela Av. Búzios passando pelo pessoal que estava assistindo a prova. Este é o momento mais legal da prova, sem dúvida nenhuma, porque podemos ver nossos amigos, familiares, conhecidos e todos passam uma energia muito legal. Além disso corremos melhor para não mostrar que estamos cansados ou com dor, então a passada até mais bonitinha :-)

Passei pela minha torcida. O pessoal estava muito animado, com megafone, buzinas, pompom, camisetas e muita energia para me acompanhar. Entre os torcedores estavam dois em especial, e estes faziam mais bagunça do que todos e chamavam mais atenção do que os atletas.




O Lucca (a esquerda) é filho da Bárbara e do Ney... Como pode um neném como este não dar trabalho, não chorar, não reclamar o tempo todo? O outro torcedor especial é o Henrique, meu afilhado, que eu não canso de me agradecer por ter a oportunidade de poder acompanha-lo sendo seu amigo e padrinho. Um pouco relapso, mas com muito carinho.




Enfim, passei minha torcida e continuei na avenida até alcançar o Fábio Valeriano. Ele está com um problema nos joelhos e nas costas e qualquer pessoa com muito menos dores do que ele teria desistido do Ironman, mas este camarada se mostrou um monstro em superar as dores e encarar o desafio. Mas, ao me ver, perguntou aonde estava minha torcida porque queria falar com a Mandi já que ela disse que poderia dar para ele um Advil (para retirar dores) e ele havia esquecido os dele na transição. Eu estava com 2 cartelas de 3 capsulas cada, tirei uma no bolso e dei para ele. 

Nossa, como ele me agradeceu. Não seria o suficiente para ele terminar a prova, mas daria para ele dar uma boa adiantada até encontrar a mãe dele e conseguir mais. Aproveitei a oportunidade e tomei um Advil preventivamente. E, uma #DICA, vale a pena, mesmo sem sentir dor como eu, tomar um remédio pode ajudar bastante.

Continuamos juntos por um bom tempo, mas eu estava numa pegada mais rápida e me distanciei um pouco. 

Depois de 3 km ou 4 km chegou a primeira subida de Canasvieiras. Sempre que me falavam do Ironman esta subida aparecia na conversa e meus amigos diziam que caminhavam para subir. Durante as conversas eu falava que iria andar mas pensava comigo mesmo: "Eu, andar numa maratona? Nem a pau... Sou mais forte do que esta subidinha". Hahahahahaha, ao ver a inclinação eu desanimei na hora. Claro que eu conseguiria subir, mas pensava pra que iria me desgastar tanto? Vesti o tênis da humildade, parei a corrida (que estava girando em pace de 4:45 min/km mais ou menos) e comecei a caminhar.

O Fábio que estava logo atrás se aproximou e fomos conversando... Falamos da natação e da bike, comentamos também um pouco da subida dos infernos e quase no finalzinho voltamos a correr na descida que nem era tão longa assim. 

Mas, 1 quilômetro a frente veio realmente a subida da igrejinha. Se a primeira subida era ruim, esta era phoda mesmo. Pena que não achei uma foto que retrate esta subida. A história que escuto é que até os profissionais caminham, mesmo que mais forte, para encarar esta pauleira.

Enfim, nesta subida fui ao lado de um cara que estava mancando com as 2 pernas. Sem eu perguntar ele me disse que tinha sido penalizado na bike (possivelmente por vácuo) e com isso quis descontar o tempo perdido e agora não conseguia mais correr. 

No meio da subida havia um grupo de pessoas tocando musicas com instrumentos de samba. Fiz força para lembrar a marchinha de carnaval que eles estavam cantando e subsistiram o enredo por coisas da corrida. Ficou bem divertido a letra, pena que não me lembro mais :-)

Ao terminar a subida encaramos uma descida relativamente mais tranquila, mesmo assim forçava bastante os joelhos. Mas ai dava para colocar de novo a velocidade de cruzeiro e voltar a correr. 

Nesta parte da prova haviam poucas pessoas assistindo, mas mesmo assim a população e alguns turistas davam apoio. Eu adotei uma tática, todos que me aplaudiam correndo eu batia palmas de volta agradecendo. 

Quando chegou numa parte plana, próximo dos 6 km tirei o primeiro gel para tomar. Notei que 2 já haviam caído, e um outro acabava de cair no meu pé. Putz, que droga. Dos 6 gels que havia colocado no cinto só me restavam 4 e tirei todos eles e coloquei nos bolsos do short, mas ficou bem apertado. Tomei o gel e continuei a frente. 

Próximo ao quilômetro 7 encontrei meu amigo Leandro Barion na sacada da hospedagem dele. O Leandro foi quem me apresentou o pessoal da Run & Fun para iniciar meus treinos de corrida quando eu nem pensava que gostaria de correr ou nem imaginava fazer um Ironman. O Leandro gritou palavras de incentivo e continuei meu caminho. Encontrei com ele de novo no quilômetro 9 e ele tirou esta foto.




A volta em Canasvieiras foi tranquila na parte plana. Só lembrei de tomar a capsula de sal próximo as 13 km percorridos, esqueci de tomar BCAA e fiquei com as pílulas na boca esperando um ponto de hidratação. Haviam muitos pontos, durante a maratona inteira. E esta é uma outra #DICA, assim como no ciclismo, tome água ou gatorade em todos os pontos de hidratação, mesmo que só um pouco.

Quando estava ha menos de 1 quilômetro da subida da igrejinha um corredor chegou ao meu lado e perguntou se me chamava Daniel Abib (estava escrito no meu uniforme, ele só confirmou). Eu disse que sim e ele se apresentou dizendo que chamava Ricardo Abib. Hahahaha, olha só, um primo na prova. 

Na verdade não somos parentes, ele é de Bragança Paulista e nossas famílias não tem nenhum traço em comum. Abib é um sobrenome relativamente comum no Líbado, várias famílias migraram para cá e foi coincidência eu e ele estávamos na prova fazendo o primeiro Ironman juntos.

Passamos as duas subidas conversando, ele falou das dificuldades que teve em ter uma contusão há 4 semanas da prova, sobre como foi a bike e natação e fomos jogando conversa fora até quase voltar a Jurere Internacional, quando ele disse que eu estava num pace muito forte e para eu continuar porque ele ia pegar mais leve.

Depois de uma passagem por uma rua paralela a Av. Búzios, toda em paralelepípedo, entravamos por uma rua a direita e nos dirigíamos até a SC-402 para uma parte da corrida na estrada. Esta parte era mais chata, não havia torcida alguma, fazíamos um vai-e-vem por um trajeto feio, mas não estávamos lá para turismo. 

Neste percurso havia uma pequena subida, nada que assustasse. Antes dela passávamos por um ponto de hidratação e logo pegávamos o mesmo posto porque o retorno não tinha nem 1 km de distância. 

Por falar nisso, parabéns a organização. Todos os postos de hidratação possuíam banheiro químico, água, Gatorade, Pepsi, laranja, banana, sache de sal, bolo e depois das 18:00 horas começavam a servir sopa. Muitos voluntários serviam os alimentos, muito organizado e tudo a vontade. Nota 10 mesmo para eles.

Saí da SC-402 e entrei na avenida que finalizaria na Av. Búzios. Neste local estava o "special needs da corrida, mas não parei para pegar nada na minha sacola.

E foi próximo ao quilômetro 19 que começou o meu martírio. Assim como na meia maratona do Ironman 70.3 de Brasília, comecei a sentir uma pontada de cãibra no músculo posterior da coxa esquerda. Não era bem uma cãibra, era uma puxada do músculo que lembra a dificuldade de estender o músculo e doía. Pensei que já estava fechando os 21 km, se este incômodo continuasse eu iria completar a prova mesmo que mancando e andando.

Não era uma dor constante, vinha a pontada, eu estivava a perna e ela passava. Só que não podia acelerar mais, porque ao forçar o pace ela vinha e fisgava de novo. Que saco. 

Enfim, voltei para a Búzios, recebi os aplausos da torcida ao passar sentido ao primeiro retorno, fui para o ponto aonde ganhávamos a primeira braçadeira branca (sinalizando que havíamos completados os primeiros 21 km, e voltei pela Av. Búzios sentido Jurere para iniciar o trajeto de 10 km de novo. 

Na foto abaixo, a braçadeira branca está no meu pulso direito, em cima do manguito preto que está todo encolhido, como se fosse uma munhequeira (em ambos os pulsos).



Ao passar pela torcida, parei para dar um beijo na Mandi e dar uma descansada evitando que a cãibra aparecesse de novo. 

Passei e no final da Av. Búzios tomei meu segundo Advil, ainda sem sentir dores. 

Ah, tomava um gel a cada 6 km ou 7 km, comia uma laranja ou banana também nos pontos de hidratação, tudo conforme o programado.

Nesta volta de 10 km as coisas foram bem normais. A pontada da cãibra aparecia ocasionalmente, as vezes parava pra fazer um alongamento da perna esquerda e comecei a mudar minha passada para correr um pouco mais com as panturrilhas, deixando as coxas mais leves. Definitivamente não dá para correr todo o tempo assim, mesmo sendo a forma mais correta de se correr, eu não treino assim e mudar durante a prova não funciona.

Ao fazer a curva, sair da Búzios e pegar a avenida paralela encontrei o Juliano e a Carmen, amigos de faculdade que foram para a prova me acompanhar parados de carro aguardando o trânsito ser liberado. Fizeram a maior festa ao me ver, depois quando o trânsito estava livre eles passaram do meu lado e também me gritaram palavras de incentivo. Putz, como é bom poder ter amigos que me acompanham assim.

Voltando à corrida, saí desta avenida e me dirigi para a SC-402, parte feia da corrida. Neste momento dei uma caminhada boa, pela cãibra e porque já estava mais cansado. Nos postos de hidratação eu começava a andar para beber os líquidos com calma. 

Mais ou menos com 30 quilômetros rodados senti uma puxada na perna direita igual a que estava acontecendo na perna esquerda. Era o que me faltava, não bastasse eu ter que usar mais as panturrilha, forçar mais a perda direita para poupar a esquerda, comecei a sentir a cãibra na perna direita. Faltava pouco, 12 quilômetros assim seria difícil, mas eu ia terminar de qualquer forma.

Eu não estava sofrendo de dor, não era impossível minha missão a partir dali, mas sempre me lembrava de uma frase: "Quando pensar em desistir, lembre-se de porque você começou". E eu comecei há mais de 1 ano atrás, sem muita certeza se faria a prova para terminar ou não, e naquele momento já havia passado por todas as dificuldades, não seria um incômodo que iria me tirar da prova.

Segui em frente, passei novamente pelo "special needs" de corrida e não parei, já que não havia muitas coisas lá que poderiam me ajudar.

Voltei para a Búzios e a multidão era maior, poque a maioria dos atletas já haviam terminado a bike e quase todos estavam na maratona, então a torcida de quase todo mundo lotava as ruas para apoiar seu conhecidos.

Passei do ladro contrário de minha torcida e escutei a vibração. Fiquei feliz demais, até esqueci das pontadas. 

Continuei em frente até o ponto de retorno e ganhei a braçadeira verde. Era a última volta de 10 km, não tinha mais o que pensar, era só seguir firme e forte, mesmo que devagar e tudo acabaria bem. 

Na foto abaixo dá para ver as duas braçadeiras, a branca no meu ante-braço direito e a verde no esquerdo.




Ao passar em frente a minha torcida, agora do mesmo lado da rua, parei para dar um beijo na minha mãe e ganhar energia positiva. Todos vibraram muito.

No final da Búzios eu coloquei a mão no bolso para pegar o último Advil e não achei. Procurei as pílulas de sal e também não achei. Já não tinha mais gel, porque perdi alguns no começo da maratona. Tudo que me restava era passar nos postos de hidratação, pegar um saquinho de sal e torcer para ele ser eficiente.

Fiz isso em todos os postos de hidratação nesta última volta, comia o sal com laranja porque era mais gostoso, tomava água ou Gatorade por cima para descer.

Encontrei alguns amigos durante as duas voltas de 10 km, já não me recordo o nome deles. Até conversei com um Luiz de Campinas que conheci na última volta, eu estava mais rápido do que ele e ao passá-lo vi que estava com as braçadeiras verde e branca (indicando que estava na última volta) e perguntei quanto tempo ele estimava terminar. Ele respondeu que a previsão era 10:40:00 (dez horas e quarenta) e fiquei muito empolgado com isso.

Meu Garmin 920xt já não ajudava mais, pelo erro da bike, então saber que eu faria sub 11 horas me animou e comecei a acompanhar este Luiz. Mas ai a cãibra me pegou de novo e tive que andar, e o Luiz seguiu. Acho que eu passei ele depois, mas não tenho certeza se era ele mesmo ou não.

Ao passar a subida da SC-402 e voltar para a Jurere Internacional encontrei um amigo da Mandi chamado João Noya e também fomos conversando. Havia encontrado com ele na sexta na Expo, ele falava das provas e tempos dele e me deu inveja. Na nossa prova eu estava na frente dele e mesmo assim ficamos lado a lado correndo.

Ao passar pelo "special needs" pela última vez percebi que a prova já estava acabando, faltavam 1 ou 2 quilômetros no máximo e eu animei, abaixando meu pace da casa dos 5:00 min/km dando o último suspiro de força que eu poderia.

A minha torcida já não estava na Búzios, já estavam próximo ao pórtico me esperando e preparando a festa. 

Lembro que estava mais frio, um pouco escuro, mas só conseguia sentir felicidade em conseguir completar a maratona e consequentemente a prova. Na área de retorno aonde a equipe da prova dava as braçadeiras a menina que dava a verde não viu que já tinha e queria me dar uma outra. Quase peguei para brincar com ela :-)

Um membro do staff me disse para passar pela esquerda e seguir para o final. Perguntei para ele se podia dar mais uma volta e ele sorriu. 

Ai foi tranquilo, já dava para ver o pórtico no final da rua, já estava morrendo de felicidade e tudo iria terminar muito bem.

Próximo ao pórtico comecei a escutar o pessoal gritando meu nome... Abri um sorriso enorme, peito cheio de satisfação e orgulho de ter conseguido terminar este desafio, sem ainda saber ao certo o tempo que iria cruzar a linha, mas no fundo o tempo era o de menos naquele momento especial.



E assim eu cruzei a linha.... YOU ARE AN IRONMAN.... Como é bom escutar estra frase... Sonhei com isso por mais de um ano.... 



Meus amigos são phodas. Meus pais são maravilhosos. Minha irmã, grávida e meu cunhado, são de outro mundo... Meu afilhado Henrique e o Lucca são os nenéns mais lindos do mundo.... A Mandi realmente foi um presente dos céus.... 



O tempo da maratona era mais ou menos o que eu esperava. Se não me engano havia estimado em 4 horas a prova, e acabei antecipando 13 minutos. 

Acredito que se não tivesse perdido os gels, pílulas de sal e o Advil e principalmente as pontadas da cãibra não aparecessem, minha maratona teria saído perfeita, mas mesmo com os problemas que tive saí muito feliz da prova. 



A corrida foi bacaníssima, até me diverti em muitos momentos e tenho fotos sorrindo, e é realmente o que gosto de fazer. Tanto que a média de tempo da minha categoria masculino de 40 a 44 anos é quase 3 horas acima do que fiz. Isso fica ainda maior quando se compara todos os participantes.



Preciso descobrir o que causa estas pontadas e corrigir, porque se correr direitinho vou poder ir ainda melhor nas próximas provas de endurance, tanto em 70.3 como em 140.6 de distância.




E eu, que havia saído da água na posição 174, terminei na posição 74 na minha categoria (após correções dos dados pela organização da prova).

Analogamente, saí da água na posição 912 no geral terminei a prova em 431. 






A bike e a corrida me jogaram lá para cima na classificação, mas na verdade isso não importa, porque eu consegui vencer de coisa muito maior... Consegui vencer a mim mesmo...

Eu odiava exercícios, nunca corria nem no colégio, tinha problemas de bronquite e de respiração, fiz uma operação no joelho esquerdo e quase fico com os movimentos prejudicados, trabalhava feito um escravo e engordei muito... Venci este Daniel, me tornei um Ironman e provei só a mim mesmo que é possível.



O tempo foi excepcional, assustador, excelente.... E olha que dá para tirar um pouco mais da bike e a corrida dá para fazer bem mais bonito. Mas, agora não importa, só queria cruzar a linha de chegada e encontrar meus pais, irmãos, amigos e a Mandi.  

Tudo foi especial... E foi assim que eu cheguei na linha de chegada.



Pós prova

Ao passar a linha de chegada estava tão cansado, tão feliz e tão extasiado que não conseguia escutar nada ao meu lado. Meus amigos me chamavam no pórtico para tirar novas fotos... O narrador falou meu nome... eu só queria descansar.

Sai e fui direto pegar uma massagem para soltar as pernas. Pensei que apenas meu posterior da coxa estava ferrado, mas assim que os massagistas da prova começaram a massagear as panturrilhas eu vi estrelinhas.

Fiquei uns 20 ou 30 minutos na massagem e saí de lá muito bem.

Mas, por conselho de vários amigos, eu fui para a enfermaria para tomar um soro. Falaram que a hidratação via soro iria ser muito mais eficiente do que qualquer alimento. 

E, logo eu, que não sou muito amigo de agulhas no meu corpo, pedi para ser picado e fiquei uns minutos deitado na maca.

E foi bom, tanto a massagem quando o soro me deixaram inteiro para ver meus familiares e amigos.... 



Esta foi a primeira foto que a Mandi tirou ao me ver saindo da Expo (massagem + enfermaria). Ai, depois de muitos parabéns e beijos, tiramos a foto mais esperada de todas, a foto no M-Dot com todos reunidos e felizes.



Pena que o Juju e a Carmella não puderam aparecer na foto, mas estavam em nossas lembranças.

Depois disso fui nas lojas da Expo comprar minha jaqueta de Finisher, muito linda e extremamente cara. 



Mortos de cansado, voltamos para a casa e fomos para um restaurante comemorar esta vitória. Minha, da Mandi (que sofreu muito o dia todo), dos meus pais (minha mãe nunca havia voado de avião), da minha irmã e cunhado que viajaram grávidos, do Ney, Bárbara e Rogério que saíram de casa com o Lucca e o Henrique e também do Juju, Carmela, Leandro e Chaves, que saíram da sua rotina para se juntar a nós. O Luiz Fernando e a Alexandra já são mais do esporte, também merecem meu obrigado e devem estar em Floripa em breve. 

Vou fazer assim, vou escrever um novo post de agradecimentos, senão este aqui vai virar um livro.

Fim da prova e do sonho. Agora sou um Ironman. E tenho muito orgulho de ter feito uma prova dura e ter me divertido (quando era possível). Superei o medo de nadar em oceano, ganhei força para fazer um ciclismo consistente e aproveitei minha maratona...

E que venham os próximos desafios.